Seguindo o rastro de vapor III – Mundos Alternativos, O Oeste Selvagem e a Sétima Arte
Falando sobre variedades do fantástico (puxando assunto através da última frase de um artigo anterior, que descarado heim Karl!) presentes no Steampunk, uma característica muito usada é a Ficção Alternativa. Algo que antes era uma categoria separada, mas foi incorporada na vertente steampunk, são os chamados Gaslight Romances (literalmente traduzindo: Romances à Luz de Gás.), histórias que se ambientam em uma versão romantizada, enevoada (quero dizer, bem mais enevoada), da Londres do século XIX, mas com enfoque em vários nostálgicos ícones do fim desse século e do início do século XX. Uma combinação de ficção sobrenatural, romance policial, e fantasia histórica, colocando em um mesmo cenário figuras como Jack o Estripador, Sherlock Holmes, Dr. Jekyll & Sr. Hyde, Auguste Dupin, Dracula (o do livro, não o de verdade), Hercule Poirot, Erik O Fantasma da Ópera, Miss Marple, e até mesmo Tarzan.
Com exceção de alguns trabalhos franceses, essa categorização não é mais usada, mas seus elementos passaram a fazer parte do gênero steampunk sem distinções, o que convenhamos, é mais prático do que ficar sub-categorizando cada elemento, e depois sub-categorizar a sub-categoria, e assim por diante.
Mundos Alternativos
Os Gaslight Romances nada mais são que Ficção Alternativa. A Ficção Alternativa usa personagens que já existem, e conta histórias diferentes com eles. Narrativas “secretas” que não foram contadas nas obras originais. A Ficção Alternativa muitas vezes mistura personagens de livros diferentes em uma história só, conectando diversas histórias em um único universo.
Um exemplo desse crossover de personagens literários em um único universo está na obra de Philip Jose Farmer.
Farmer, autor da série Word of Tiers, e Riverworld, misturava personagens históricos e literários em um imenso universo em que os livros clássicos escritos por Verne, Conan Doyle, e tantos outros autores, eram apresentados como não sendo ficção, e sim relatos verídicos ficcionalizado por tais autores. Ele escreveu biografias tanto para Tarzan, como para o herói pulp Doc Savage. Nessas biografias, bem como no livro The Other Log of Phileas Fogg (que conta a história secreta do que houve em A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne, traçando uma trama de conspiração e alienígenas) Farmer interliga as histórias de centenas de personagens literários em algo que ficou conhecido como World Newton Universe.
A mistura de personagens fictícios (geralmente de domínio público) com figuras históricas, fazendo uma mistura de História Alternativa e Ficção Alternativa, é algo muito usado no Steampunk.
Conceitos como do World Newton Universe são usados na série Anno Dracula, de Kim Newman, que une os vampiros da ficção, bem como outros personagens, em um mundo onde o Dracula de Bram Stoker nunca foi derrotado, e se tornou o consorte da rainha Vitoria, e em A Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O’Neill, que provavelmente não precisa de apresentação e já se tornou uma referência nesse tipo de ficção.
Ainda nesse campo dos subgêneros que se “casam bem” com o steampunk, temos também o Weird West.
O Oeste Selvagem e Tecnológico
Weird West é o termo usado para descrever a combinação do Faroeste, ou Western, com algum outro gênero, seja horror, sobrenatural, fantasia ou ficção científica. Boa parte do material Weird West apresenta muitos elementos voltados ao horror, cidades-fantasmas, vampiros, feiticeiros, zumbís, maldições e o diabo (esse “e o diabo” que acrescentei, neste caso é literal, não eufemismo para “muito mais coisas que não lembro agora”), trabalhos como o RPG Deadlands, os quadrinhos de Jonah Hex, The Wicked West, o manhwa (mangá coreano) Priest, ou o filme Gallowwalkers. Exemplos da combinação Western/Weird West com o Steampunk é que não faltam, e talvez, um dos melhores exemplos seria a antiga série de televisão The Wild Wild West.
Lançada na década de 60, The Wild Wild West conta a história de dois agentes do Serviço Secreto: James West (Robert Conrad), o pistoleiro galã, e Artemus Gordon (Ross Martin) o inventor e mestre dos disfarces. Sua missão principal era proteger o Presidente Ulysses S. Grant e o país de qualquer ameaça, viajando a bordo de seu próprio trem, The Wanderer (O Errante), que era equipado com laboratório, armas escondidas, e toda uma sorte de traquitanas.
A série mesclava Faroeste, espionagem, ciência e comédia. E assim como nos filmes de James Bond (a ideia do autor de Wild Wild West, Michael Garrison, parece que era uma espécie de “007, só que a cavalo”), sempre apresentando damas sedutoras, engenhocas inesperadas, e arqui-inimigos cheios de ilusões e planos insanos para dominar o mundo. Os roteiristas da série frequentemente começavam criando as nefastas e estilizadas (as vezes absurdas) invenções dos vilões, e depois escreviam o episódio ao redor destes aparelhos. Histórias inspiradas em trabalhos de Edgar Alan Poe, H. G. Wells e Julio Verne também era comuns.
Um dos aspectos mais interessantes da série, que durou de 65 até 69, tendo por volta de 104 episódios, eram as engenhocas usadas por West e Gordon. Inúmeros aparelhos, veículos e armas apareciam nos episódios, sendo que, um dos mais populares e mais usados na série, era o aparelho escondido sob a manga da camisa que fazia deslizar a pistola Derringer de West para a sua mão, ou dependendo da ocasião, um tubo de ácido, lâminas, ou até garras de escalada.
Quem inventava tudo isso era o engenhoso Artemus Gordon. Se Jim West era o James Bond do Velho Oeste, Gordon era claramente seu Q, sempre com aparelhos bizarros para ajudar o agente, sejam compartimentos secretos para armas na sola das botas, bolas de bilhar explosivas, cigarros que são na verdade lança-chamas, bengalas com um telégrafo escondido, e até mesmo um coche com assento ejetável.
Mas os aparelhos não eram exclusivos dos heróis da série, oh, não mesmo. Os maléficos, e levemente perturbados, vilões da série tinham suas próprias invenções: geradores de terremotos, aparatos de lavagem cerebral, marionetes à vapor, prostéticos mecânicos, fórmulas de invisibilidade, jarros que conservam cérebros vivos e sugam seu conhecimento, formulas encolhedoras, portais para outras dimensões, canhões capazes de destruir cidades inteiras em um tiro, tanques de guerra à vapor, campos de força que desintegram quem os toca, e tudo isso, lembre-se, no velho oeste.
Foram feitos dois filmes da série com o elenco original, um em 79 outro em 80, e em 99 a Warner produziu uma adaptação que… bem, digamos que não foi muito bem sucedida.
A série de TV também deu origem a uma série em quadrinhos de sete edições, livros, e uma míni-série que envolvia uma conspiração para assassinar o President Grant e, adivinhem só, o Presidente do Brasil, para por no poder os Cavaleiros do Círculo Dourado.
O Steampunk Nos Cinemas
Muitos filmes, mesmo não sendo assumidamente Steampunk, foram feitos adotando elementos do gênero em sua estética e estilo.
Temos filmes feitos anos antes do termo steampunk surgir, como The Fabulous World of Jules Verne (1958), The Fabulous Baron Munchhausen (1961), e The Stolen Airship (1966) todos feitos pelo cineasta tcheco Karel Zeman.
Filmes como Ladrão de Sonhos, de Jean Pierre Jeuneut e Marc Caro adotam uma estética decididamente steampunk em toda a sua narrativa, outros apenas adotam certos elementos, como o design do Exército Dourado em Hellboy 2, ou o que talvez seja um dos maiores exemplos, a locomotiva no final de De Volta para o Futuro III.
Animações que usam o Steampunk mais abertamente são mais fáceis de se encontrar, especialmente em animes. Os longas do Estúdio Ghibli “O Castelo no Céu” (1986), e a adaptação do livro de Diana Wynne Jones “O Castelo Animado” (2004) claramente adotam uma estética steampunk.
E é claro, temos Steamboy (2004), de katsuhiro Otomo, criador de Akira. Em produção por dez anos, Steamboy foi o longa de animação mais caro já feitos no Japão. Steamboy não apenas adota a estética Steampunk, mas é por definição uma história Steampunk, se passando em 1863 em uma Europa alternativa onde a tecnologia a vapor fez imensos avanços, alterando o cenário político do mundo. Essa tecnologia, bem como seu uso, é um dos pontos principais do filme.
Nos quadrinhos, o Steampunk também tem representantes, há adaptação de heróis contemporâneos para aquela época, como em JLA – Age of Wonder que reimagina a Liga da Justiça no inicio do século XX em um contexto científico, Batman Master of the Future, que coloca o homem-morcego em um passado com dirigíveis e déspotas, The Adventures of Luther Aarkwright, de Bryan Talbot, Sebastian O, de Grant Morrison, a já citada Liga Extraordinária, de Alan Moore, e até Transformers, em Transformers – Hearts of Steel. Sim, você leu corretamente, Transformers! Mas vou deixar para falar neles em artigos separados.
E na próxima, e ultima parte desse artigo, iremos falar sobre o movimento Steampunk, e como o gênero se espalhou para além da literatura e do cinema, migrando para diversas outras formas de arte. Até lá!
Por Karl
Digníssimos senhores, pela ausência. Tive problemas com o HD e somente agora retorno à vida, rsrs…
Findos os processos de reabilitação e atualização necessários, volto a elogiar o desenvolvimento deste site e seus artigos.
Cada parágrafo tem sido uma aula e a cada edição mais e mais conhecimento e cultura se agregam à mente dos leitores.
Após as considerações, ainda sobra espaço para uma frase de efeito, não?
Avante, viajantes do tempo!
Hahuahuauha, tá.. dá um desconto.. eu fiquei um bom tempo de fora.. hehehe
Boa viagem, para todos nós. Vocês são nossos guias!
Correção: Faltou um ‘peço desculpas’ antes de ‘pela ausência’, mas acho que deu pra entender, rsrs.
Abs..o/
Eu queria favoritismo sobre a minha pessoa…
=(
Como sempre um excelente texto @.@
Beijos!
…. o.o …
Adorei,parabéns!
Olá Karl!
Realmente estou adorando ler estes textos,pena te-los descoberto a tão pouco tempo.
O site está ótimo.
Abraços
Lady Jordana