Steampunk nos Quadrinhos – The Five Fists of Science
The Five Fists of science
… Paz por compulsão. Isso parece uma melhor idéia que a outra. Paz por persuasão soa agradável, mas eu penso que nós não deveríamos buscá-la. Nós deveríamos domar a raça humano primeiro, e a história parece mostrar que isso não pode ser feito. Não podemos reduzir os armamentos pouco a pouco, em uma base proporcional, pelo equilíbrio do poder? Não podemos fazer quatro das grandes potências concordarem em reduzir sua força em 10% ao ano, e arrastar os outros a fazerem o mesmo? Mas, é claro, não podemos esperar que todas as potências estejam em suas plenas sanidades mentais ao mesmo tempo. Já foi tentado. Nós não iríamos tentar convencer todos eles a aderirem a esse trambique pacificamente, não é? Neste caso remover minha influência; por que, por questão de negócios, eu devo preservar os convencionais e populares sinais de sanidade. Quatro são o suficiente, e se eles podem ser seguramente coagidos juntos, eles podem compelir a paz, e paz sem compulsão seria contra a natureza e inoperável.
… Paz perpétua não podemos ter em termo nenhum, eu suponho; mas eu espero que possamos gradualmente reduzir a força bélica da Europa até que cheguemos ao ponto em que queremos que chegue… Então poderemos ter toda a paz que vale a pena, e quando quisermos, uma guerra que ninguém poderia suportar.
Mark Twain
9 de Janeiro, 1899
O ano é 1899, e o mal está a espreita.
Os feitos nefários de Thomas Edison, do empresário Andrew Carnegie, e do mal direcionado inventor Guglielmo Marconi (os três devidamente controlados pelo notório homem de negócios John Pierpont Morgan), logo chegarão ao apice, ameaçando espalhar seu poder maligno por um já alquebrado mundo.Quem pode remediar tal situação?
Quem, a não ser os cinco punhos da ciência; o gênio inventor sérvio Nikola Tesla, seu (totalmente ficcional) assistente de uma mão, Tim Boone, e um certo Samuel Longhorne Clemens, Mais conheçido como o irascível escritor Mark Twain.
O escritor apesar de desejar a paz, acredita que o conflito é inevitável; mas a paz ainda pode ser alcançada. Twain, Nikola Tesla e Timothy Boone , formam os “cinco punhos da ciência”. E juntos eles acreditam ter um plano que ira fazer o mundo cessar o caminho da aniquilação da humanidade. Twain acredita que a paz pode ser atingida compulsoriamente — se cada nação do mundo acreditar que cada outra nação pode erradicar as outras, qual é o incentivo de iniciar uma guerra em que ninguém irá sobreviver? É quando decidem vender aos governos mundiais idênticas versões do robô gigante de Tesla. É uma idéia instigante, e inclusive não aplicável apenas na época e situação em que a história se passa, se é que me entendem.
Apesar do talento de vendas de Twain, os peixes não puxam a isca, e a tentativa se torna ainda mais desesperada; com a assistência da Baronesa Bertha Von Suttner, a espevitada e sagaz dama do movimento de armistício, batalhas entre o autômato gigante de tesla e ’seres extra dimensionais’ são arranjados para convencer a população de para onde o dinheiro deles deveria ir.
O tiro sai pela culatra quando o grupo de Morgan se mostra capaz de feitos ainda mais assombrosos do que grandiosos feitos da engenharia civil. É quando a tecnologia e boas intenções enfrentam homens de negócios e seus monstros, demônios e magia negra.
Tratado objetivamente, poderia muito bem ter se tornado uma narrativa virulenta, anti-capitalista, subversiva, pró organizações intelectuais armamentistas, e com certeza haverá quem leia exatamente dessa maneira, e fazer isso dessa forma não retira nenhum mérito da história, mas com uma premissa séria ou não, o fato é que é uma história realmente engraçada.
Conforme Os Cinco Punhos batalham contra as ardilosas maquinações da gangue de vilanescos ícones históricos de Morgan, o fator de improbabilidades chega a ápices como é de se esperar em uma Graphic Novel. Mas o humor sutil, ainda que consciente, da obra fazem mais que redimir as (por vezes propositalmente ridículas) linhas narrativas/enredos, quase fazendo todo o livro parecer inteiramente satírico, uma subversão do formato tradicional de uma Graphic Novel ao mesmo tempo em que apresenta a distorção histórica suficiente para encaixar-se nas visões utópicas e em teorias de conspiração;
Twain e Tesla são retratados em incrivelmente acurados detalhes, tanto gráficos quanto emocionais. A falastronice de um falido Twain é balanceada perfeitamente com o jeito obsessivo-compulsivo de tesla, o adicional Tim Boone age como o homem de bem comum (ainda que consiga seu valente momento de gloria) e Von Suttner preenche o papel da “donzela de ação não tão donzela” de uma forma que escapa ao clichê. Os malvados se encaixam em seus perfis também, mas de uma maneira tão satisfatória que se torna inconcebível cogitar que eles teriam se comportado de maneira diferente no mundo real. Todo o ponto da piada é a consciência de si mesmo como tal.
Seguem-se aqui trechos dos textos introdutórios:
John Pierpont Morgan: Esses dois fatos — que ele era mais rico que Deus, e que ele gostava de arte, livros e antiguidades, permitiram que extrapolássemos ele no personagem demente que aparece nessas páginas. Na vida real, Morgan não era adepto da magia negra, e sim protestante.
Nikola Tesla: Nós não inventamos nenhuma das fobias, manias ou falhas pessoais do homem, exceto pela parte de se fantasiar e combater o crime.
Thomas Alva Edison: Edison iniciou uma campanha de desinformação contra a Corrente Alternada que via como resultado dela a invenção da cadeira elétrica e a eletrocução de um elefante chamado ’Topsy” entre outras coisas. Edison financiou o trabalho de Guglielmo Marconi desenvolvendo o rádio e retém a patente da câmera filmadora. A história é que Hollywood foi iniciada no deserto da California porque os produtores de filmes queriam estar o mais distante possível de Edison.
Guglielmo Marconi: Membro do Gran Consiglio del Fascismo na Itália. Mussolini foi seu padrinho de casamento inclusive. Nós não temos evidencia alguma que prove que ele tenha uma compulsão alimentar relacionada a stresse como nessas páginas, mas foi mais engraçado do que fazê-lo um fascista.
Outro elemento surpreendente do trabalho é a arte de Steve Sanders e sua excelente interpretação do roteiro de Mark Fraction. Quando Fraction tenta fazer uma piada, Sanders captura perfeitamente, retratando visualmente os trejeitos da comédia cinematográfica. A arte de Sanders passa a sensação de um caderno de esboços colorido, encaixando-se no período do trabalho. Tudo parece ser mais velho do que é, enquanto as cores fortes determinam o tom da cena.
Embora tendo um final que basicamente não é um final (não digo que Matt Fraction estragou o fim, ou escreveu algo ruim, é mais algo como se ele nem houvesse escrito um final para a história, o que seria compreensível se a série tivesse sido continuada, mas não foi) a história ainda funciona, e se houvesse sido tratada com o devido cuidado que merecia, haveria o potencial para no mínimo uma excelente míni-série, mas como a Image Comics lançou o especial em 2006, e até agora nenhum rumor sobre mais material dos Cinco Punhos da Ciência se ouviu, essa é apenas uma esperança fraca de um fã.
Se você gosta de Graphic Novels com estilo pós-moderno e elementos históricos, ou é um leitor de ficção científica com inclinações ao improvável e o ridículo (no bom sentido, é claro), ou apenas alguém fascinado pelos eventos daquela época áurea, Five Fists of Science certamente irá lhe arrancar boas risadas, algumas até em voz alta. E qualquer livro que alcança tal coisa, com certeza já justificou seu preço.
Por Karl
Ohhhh!!
*-*
Eu queroooo!!
UAU!
Também quero!