Infernal Devices de K.W. Jeter
Tudo começa quando um misterioso homem com a pele de textura parecida com a do couro entra na relojoaria de George Dower. Ele tem um aparelho que precisa de reparo, um dos muitos aparelhos espantosos que a genialidade de seu pai construíra, e George nem de longe possui o talento requerido para reparar a imensa gama de automata criada pelo seu falecido pai. Mas sua palavra sobre o assunto podem não ser o suficiente para convencer antigos clientes do velho Dower, e esses clientes podem ser perigosos.
Publicado pela primeira vez em 1987, pela St. Martin’s Press, Infernal Devices: A Mad Victorian Fantasy é talvez, a obra de leitura mais acessível escrita por Kevin Wayne Jeter (isso incluindo os romances de Star Wars e as sequências de Blade Runner). O livro saiu no mesmo ano em que o palavra “Steampunk” foi cunhada pelo próprio Jeter na fatídica brincadeira que fez em uma carta para a Locus Magazine e que acabou denominando todo um gênero. Jeter sugeriu um nome para definir os trabalhos recentes de Tim Powers (como The Anubis Gates, de 1983), James Blaylock (Homunculos, de 1986), e dele mesmo (Que publicara Morlock Night em 79) com brincadeira, afinal, eles não haviam sido os primeiros escritores modernos de ficção cientifica a explorarem esse nicho. De Worlds of the Imperium, de Keith Laumer, passando por Queen Victoria’s Bomb, de Ronald W. Clark, até Warlord oof the Air, de Michael Moorcock, aplicar uma especulação científica moderna na tecnologia de uma era passada e criar uma história alternativa em que a sociedade do passado avançasse mais que a do futuro não era algo exatamente novo. Mas Infernal Devices merece um destaque especial pelo tom obviamente satírico que emprega.
Jeter usa a linguagem rebuscada de um romance de época na narração do livro (todo em primeira pessoa), e usa os pontos de vistas de George Dower ao descrever os elementos mais fantásticos, sejam tecnologia improvável, ou seres de natureza grotesca. E George, apesar de muitas vezes ter sua vida ameaçada, estar apavorado, ou estar claramente em momentos de conflito de natureza carnal, tenta, sem exceção, manter sua fleuma britânica, e agir da maneira apropriada. Seria ridículo, se não fosse hilário. Na verdade é hilário por ser ridículo (“ridículo” no bom sentido, é claro).
George é puxado para dentro dos conflitos e intrigas envolvendo os livres-pensadores da Anti-Sociedade Real, os repressivos zelotes do Exército Divino, é perseguido pela União das Damas pela Supressão do Vício Carnal, é importunado pessoalmente por valentões, e vai se aprofundando em enigmas que põem sua pobre cabeça nem um pouco imaginativa em parafuso. Suas investigações o levam até Wetwick, uma estranha e infame vizinhança de Londres onde todos parecem ter uma perturbadora semelhança com peixes… (provavelmente parentes do povo de Innsmouth hehe).
A trama também apresenta um impaciente homem de óculos de lentes azuis e sua liberal sócia. Ambos falam e agem de uma maneira muito peculiar (ao menos para George, como um Inglês Vitoriano, mas o leitor pode reconhecer como sendo o modo contemporâneo de falar), Também há experimentos com o aether, viagem no tempo (mais ou menos), máquinas capazes de partir a Terra ao meio, e um autômato violinista de surpreendentes habilidades musicais e sexuais.
Entre coincidências, falhas, e toques de genialidade, Infernal Devices: A Mad Victorian Fantasy, é um livro excepcional para quem aprecia o gênero, mas não está pronto para algo mais denso como The Difference Engine.
Por Karl
Olá, Karl. Muito interessante o site. Sou do Recife, mas conheço muita gente de SP que teria interesse em conhecer vocês. Mantenhamos contato. Abraços!
Oi Karl.
Sou um dos “paulistas” que o Jacques falou, muito interessante este trabalho, sou fã e colecionador de FC em geral, gosto de História Alternativa e Steampunk.
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