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Octávio Aragão e A Mão que Cria

Octavio Aragão 


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esigner gráfico nascido no Rio de Janeiro, em 1964, e graduado em 1997 pela Escola de Belas Artes, UFRJ. Octavio Aragão seguiu carreira atuando como layoutman, ilustrador editorial e publicitário, diagramador e infografista em empresas diversas – que incluíram estúdios de design e agências de médio porte até que foi contratado pela Renato Aragão Produções como desenhista de produção.

Como brinca o próprio Octavio – “Não, não sou parente do Didi, mas dizer que era ‘Octavio Aragão da Renato Aragão Produções’ facilitava as coisas na hora de tratar com fornecedores.”


Trabalhou também para a Pixel, onde aprendeu a mexer com os computadores macintosh, então uma novidade no Brasil. Em 1991, abriu seu estúdio próprio, A Cia do Design, em sociedade com designers, que durou até  o jornal O Globo o chamar para assumir o cargo de ilustrador/infografista. Fez carreira, chegou a coordenador do departamento e foi para o jornal O Dia, em 1997, como subeditor de arte, mas antes do fim do ano já estava desligado da empresa.


Foi nesse período que começou a publicar ficção, com o conto Eu Matei Paolo Rossi, na antologia Outras Copas, Outros Mundos (Ano Luz, 1998). Na seqüência, vieram o miniconto Trevo (Phantastica Brasiliana, Ano Luz, 2000) e a edição da antologia Intempol (Ano -Luz, 2000). Daí em diante, não parou mais de escrever contos e começou a pensar em um romance.

Abriu um estúdio novo, a Cultual Produção, e entrou para o mestrado da EBA em 2000. Daí para o doutorado em Artes Visuais, também na EBA em 2004 foi um pulo- “talvez o ano mais conturbado de minha vida” – diz o autor.

Hoje reside com sua esposa Luciana e seu filho Pedro Henrique em Vitória, onde trabalha como professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo.

Segundo o autor ponto alto de sua carreira como autor foram as publicações de Imaginário Brasileiro e Zonas Periféricas (Sette Letras, 2005), antologia de artigos acadêmicos sob a chancela da Professora Rosza Vel Zoladz, e o romance A Mão que Cria (Mercuryo, 2006)- “mas tenho problemas em me considerar escritor, pois ainda me considero simplório em diversos pontos indispensáveis dentro da carpintaria do ofício, principalmente na escolha deficitária da *palavra perfeita*”– diz Aragão ( diga-se de passagem todos nós discordamos claramente disto).

Segue a entrevista:

Qual foi seu primeiro contato com steampunk?

Octávio Aragão: Não recordo se o primeiro contato com o termo foi com Michael Moorcock, em A Nomad of the Time Streams, ou antes, mas sempre fui fascinado pelo filme 20 Mil Léguas Submarinas, versão da obra de Julio Verne, produzida pela Disney nos anos 50. Perdi a conta de quantas vezes assisti ao filme e, a partir daí, qualquer coisa que tivesse tecnologia retrô me atraía. O seriado James West (Wild, Wild West) também me fisgou, por volta de 1979.

Como é a sensação de ser definido como um autor Steampunk?

Octávio Aragão: Não faço idéia. Para mim é difícil até ser definido como *autor*, quanto mais como pertencente a um subgênero. Eu sou steampunk ou uso elementos steampunk? Não sei dizer.

Quais são seus livros e filmes do gênero Steampunk prediletos?

Octávio Aragão: Além dos citados acima, The Difference Engine, obra precursora do subgênero, escrita a quatro mãos por William Gibson e Bruce Sterling, é indispensável. A BD francesa Hauteville House é, visual e textualmente, um belo exemplo (melhor que A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, em minha opinião). O RPG Castle Falkenstein, apesar de minha má-vontade com o jogo de representações, é um material bem construído. E, no cinema, fecho com os desenhos animados de Michel Ocelot, principalmente o episódio Les Trois Inventeurs (http://www.youtube.com/watch?v=AZdKG5SrHUA), e o genial Steamboy (http://www.youtube.com/watch?v=0eAk6oNBSMU), de Katsuhiro Otomo.
Esta semana descobri uma série de filmes dos anos 50, de autoria de Karel Zeman, (http://www.youtube.com/watch?v=vrL49BU2OHs&feature=related ) que são peças geniais de Steampunk.

Como você define “A Mão que Cria”? Quero dizer, é um obra totalmente Steampunk, com traços deste gênero ou é uma obra de FC complexa com diversas
influencias?

Octávio Aragão: A Mão que Cria pertence ao subgênero batizado por Eric Henriet como Ficção Alternativa é uma nomenclatura que gera problemas? Sim, porque pode ser confundido com qualquer tipo de ficção que não se enquadre no mainstream, mas tem por objetivo definir narrativas que, partindo de um ponto de divergência em obras ficcionais escritas por outros autores, estabelece uma sequência de eventos diferente do original. Anno Dracula, de Kim Newman, é em minha opinião a obra definidora desse subgênero.

É importante estabelecer que a distinção da FA dos demais pastiches que fazem crossovers entre personagens, tais como Arséne Lupin contra Herlock Sholmes, de Maurice leBlanc, ou os vários encontros entre Holmes e Drácula, é a existência de um ponto de divergência claro. ( Eric Henriet, o especialista em Uchronia (ficções que lidam com alterações do tempo e da história) francês, criador do termo “ficção alternativa”).

Cite algumas obras de FC que o influenciaram, e destaque algumas de suas prediletas.

Octávio Aragão: Em primeiro lugar dentre as obras formadoras, O Homem Ilustrado, de Ray Bradbury, e os infanto-juvenis de Monteiro Lobato, com destaque para A Chave do Tamanho. Somados a Poe, Huxley, Wells, Orwell, Clarke e Asimov, que li na adolescência. Depois dos 18 anos, li tudo de Richard Matheson, Stephen King, Frank Herbert e H. P. Lovecraft que consegui alcançar.

Hoje minhas preferências orbitam a tetralogia Hyperion, de Dan Simmons; Perdido Street Station, de China Miéville; muita coisa de Philip José Farmer; Darwinia e The Chronolyts, de Robert Charles Wilson; a trilogia Stardance, de Jeanne e Spider Robinson; a série The Age of Unreason, de J. Gregory Keyes; The Dancers at the End of Time, de Michael Moorcock; V, de Thomas Pynchon, e The Guns of The South, de Harry Turtledove. Daqui a pouco é capaz de lembrar de outros quinhentos livros, mas por agora acho que basta, né?

Onde busca inspiração para escrever?

Octávio Aragão: Algumas histórias vem de sonhos, como Íris Lettieri no Céu e Armageddom em Madureira, mas a maioria vem de cenas do dia a dia, coisas que imagino quando vejo pessoas e coisas. Como não dirijo, gasto muita sola de sapato e nada melhor para observar as cidades (Rio e Vitória) e as pessoas. A maioria das cenas que descrevo vêm de explanações do cotidiano, do extra que sobrevive no âmago do ordinário.

 O steampunk têm tido uma manifestação mais ativa nos últimos anos, inclusive com o surgimento de grupos organizados como a Sociedade Steampunk de Chicago, a Sociedade Steampunk de Toronto e o Conselho Steampunk. Oque acha desta manifestação?

Octávio Aragão: Acho excelente, claro. Principalmente por sua independência do restante do cenário já exaurido da ficção científica e fantasia existente no Brasil. Sangue melhor e novo é necessário e desejável. Quero ler mais gente que escreve/desenha/filma. A FC já foi chamada de *gênero de idéias*, pois então… só há idéias novas quando existe renovação.

Na sua opinião quais personagens da história nacional, mais evocam o espirito steampunk e poderiam ser explorados pelo gênero, alias como comporia um cenário steampunk brasileiro?

Octávio Aragão: Usei e uso Pedro II à exaustão. Ele é O Monarca de Alma Steampunk. O Visconde de Mauá é outro digno de aparecer em qualquer história, já que chegou a ser citado até por Julio Verne em Da Terra a Lua como um dos patrocinadores daquela viagem interestelar. Santos Dumont, então, nem se fala. Gérson Lodi-Ribeiro fez um bom uso dele no conto Pais da Aviação.

Por ultimo defina o steampunk em uma frase.

Octávio Aragão: Futuro do pretérito.

O Conselho Steampunk agradece a Octávio Aragão e convida a todos os admiradores do Steampunk para uma salva de palmas em sua homenagem.

Raul Cândido

3 Responses to “Octávio Aragão e A Mão que Cria”

  1. Lúcio Manfredi says:

    “Futuro do pretérito” é ótimo! Grande sacada, Octa – e parabéns pela entrevista!

  2. Dr Victor says:

    Ótimas referências o autor tem, também comecei o fascínio em assistir “As Vinte Mil Léguas Submarias”, lembro muito bem de passar no SBT durante a tarde. Seu livro, “A Mão Que Cria”, é de preço bastante acessível e ótimo acabamento, não é algo para perder-se.

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