Homens e Mostros – A Guerra Fria Vitoriana
Em um mundo steampunk, a história da Europa vitoriana não aconteceu como conhecemos. Após tensões com os colonizadores espanhóis, o Império Asteca torna-se parte do poderoso Império Britânico. Mas os ingleses não são os únicos protagonistas e disputam com os históricos rivais franceses pela hegemonia nesse novo panorama. Assim, o século XX começa com uma verdadeira Guerra Fria entre essas duas grandes potências mundiais.
Jules Verne, Ministro da Ciência francês, comanda os agentes do serviço secreto contra os enviados de seu nêmese, H.G. Wells, Ministro da Ciência da Inglaterra. Motivados por uma imaginação sem limites, o embate dos dois ministros levará a humanidade a incríveis realizações.
A guerra transforma Homens em Monstros ou apenas liberta o que guardam dentro de si?
Em Homens e Monstros – A Guerra Fria vitoriana, romance do elogiado autor de ficção científica Flávio Medeiros Jr., encontre o Almirante Nemo, Axel Lidenbrock, Dr. Jekyll e outros personagens célebres da literatura fantástica vitoriana em um contexto diferente das obras originais. Existe um sentido para a ética na guerra? Como ela transforma os homens? Se os converte em monstros ou apenas liberta o que guardam dentro de si, só há um jeito de saber. Engrene-se nas histórias que formam essa realidade steampunk extraordinária.
Contos
O som e o aroma da morte
Homens e monstros
Máscaras
O lamento da águia
Os primeiros aztecas na lua
Por um fio
O Autor
Flávio Cesar de Medeiros Jr. nasceu e vive em Belo Horizonte (MG) formou-se em Medicina pela UFMG em 1988, especializando-se em Oftalmologia.
Seu primeiro romance “Quintessência” (Editora Monções) foi publicado em 2004, história policial de ficção científica. Seguido por “Casas de Vampiro” (Tarja Editorial) em 2010. Participou da coletânea “Paradigmas 2” (Tarja) e “Paradigmas Definitivos” (Tarja). Tem outros contos e noveletas “Imaginários 1” (Draco), “Space Opera” (Draco), “Assembleia Estelar” (Devir) e “Dragões” (Draco). Em 2011, seu conto “Por um Fio” foi premiado em segundo lugar no Concurso Hydra, sendo publicado na revista americana “Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show”. Em 2012, sua noveleta “Pendão da Esperança” ganhou o Prêmio Argos na categoria “Melhor História Curta”. No final do mesmo ano, seu conto “Conto de Fadas” ganhou o segundo prêmio no XII Concurso de Contos Petros.
O autor cedeu uma entrevista para o Conselho, leia abaixo 😉
Entrevista:
Conte-nos sobre sua relação com literatura fantástica e em particular com o Steampunk.
Leio ficção científica e fantasia desde que me entendo por gente. No caso da primeira, iniciei, na adolescência, com a série alemã de space opera Perry Rhodan e com os livros de Isaac Asimov. Na fantasia, comecei lendo “As Crônicas de Nárnia” (C.S. Lewis), “O Senhor dos Anéis” (Tolkien) e uma série finlandesa chamada “The Moomins”, que saiu aqui pelas Edições de Ouro. Paralelamente, era aficcionado pelas séries de TV “Star Trek”, “Perdidos no Espaço” e as séries de Irwin Allen (“Túnel do Tempo”, “Terra de Gigantes”, “Viagem ao Fundo do Mar”). Naturalmente, como sempre gostei de escrever desde a infância, comecei a escrever fanfics, numa época em que essa palavra nem existia, e eu me sentia culpado de estar “chupinhando” universos ficcionais alheios, sem desconfiar de que, no mundo, havia centenas e pessoas fazendo a mesma coisa impunemente. Logo comecei a observar que eu tinha ideias boas, que me considerava capaz de escrever coisas tão legais, ou até mais, do que algumas que lia. E comecei a formar minha identidade como escritor. Um belo dia li algumas histórias do Gérson Lodi-Ribeiro e do Octavio Aragão e pensei comigo: “três gêneros nos quais nunca na vida vou me meter são a ficção alternativa, a história alternativa e o steampunk”. A perspectiva da quantidade de pesquisa necessária para escrever nesses gêneros me assustava. Veja como são as coisas: hoje, meu universo ficcional mais desenvolvido, sólido e coeso é, ao mesmo tempo: ficção alternativa, história alternativa e steampunk.
Na coletânea Steampunk – Histórias de Um Passado Extraordinário existe o seu conto “Por Um Fio” e na coletânea Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades o conto “Os primeiros aztecas na Lua”, estes contos se passam no mesmo universo? Como se dá essa relação?
O pessoal da editora Tarja me convidou para escrever uma história para a antologia “Steampunk”. Como meu processo criativo funciona muito bem sob a pressão das deadlines, aceitei, mesmo sem ter ideia nenhuma ainda. Lembrei-me de um episódio verídico, relativo a uma divergência que teria ocorrido entre os escritores Jules Verne e H.G.Wells, e decidi desenvolver uma história a partir daí. Eu estava de plantão – sou médico – e de repente “eclodiu” o roteiro de “Os Primeiros Aztecas na Lua”. Foi uma coisa poderosa! A história crescia na minha mente, se desdobrava, dava frutos e ramos paralelos, tudo se encaixava maravilhosamente, uma ideia puxava outras, e eu estava deitado numa cama de plantonista de madrugada, sem meu computador. Não consegui dormir, tal foi minha excitação, e meu medo de dormir e perder aquilo. Tratei de colocar tudo no “papel” no outro dia, e a história estava ficando enorme. Fui consultar a convocação da Tarja para o livro, e descobri que minha história já tinha mais que o dobro do tamanho do que eles pediam! Nesse momento, fui convidado para escrever algo para a “Vaporpunk”, e era uma antologia de noveletas. Minha história caía como uma luva! Mas e a Tarja? Como eu disse, o universo de “Os Primeiros Aztecas…” já era tão vasto que eu simplesmente parei com a história principal e escrevi um conto paralelo, no mesmo universo. Daí que “Os Primeiros Aztecas…” e “Por Um Fio” ficaram prontos quase ao mesmo tempo. Chamei esse universo ficcional de “Guerra Fria Vitoriana”, e hoje, além dessas duas, ele já conta com mais quatro histórias longas e uma quinta em fase de preparação.
Essa forte presença da “história alternativa” nos seus contos se repete em diversas outras obras retrofuturistas. Você acredita que este seja o principal elemento destas obras?
Penso que essa associação aconteça de forma natural. Quando você viaja ao passado e insere nele um elemento que não existia, que no caso do retrofuturismo geralmente é algo relacionado à antecipação de uma conquista científica, fatalmente você estará gerando toda uma linha histórica alternativa. Nós sabemos que um dos principais elementos que determina a direção e a velocidade em que evolui nossa civilização é justamente a evolução da ciência, suas descobertas e invenções. Por isso eu não diria que é o “principal elemento”, mas que o retrofuturismo associado à história alternativa é o “pano de fundo”, o cenário ideal e natural para esse gênero de literatura.
Como é a experiência de escrever um romance Steampunk? E como foi a composição desse cenário?
No caso de “Homens e Monstros – A Guerra Fria Vitoriana”, não foi difícil. É um romance fix-up, ou seja, cada uma das seis histórias do livro é independente e pode ser lida sozinha, mas ao mesmo tempo funciona como uma peça de um quebra-cabeças. Todas elas juntas dão ao leitor uma visão panorâmica, bem mais ampla, desse universo alternativo. Um evento apenas mencionado de passagem em uma história passa a ser o centro da ação em outra; o personagem que morre em uma história tem sua trajetória pessoal melhor discriminada em outra; alguns acontecimentos “históricos”, como por exemplo, no meu livro, o afundamento acidental do navio de passageiros britânico “Príncipe de Gales”, trará consequências para as vidas de personagens de diferentes histórias. Como eu já tinha “Por um Fio” e “Os Primeiros Aztecas na Lua” prontos, tinha a base do universo ficcional estabelecida. Escrevi as demais histórias a partir daí, ampliando inclusive o entendimento do leitor para acontecimentos mostrados nessas duas histórias. Quando seu universo ficcional começa a ganhar consistência, profundidade, é como se ganhasse vida própria. As histórias que vêm depois acabam surgindo naturalmente dentro dele. Terminei o “Homens e Monstros” consciente de que estava deixando “ganchos” para desenvolver pelo menos mais duas ou três noveletas, e não comecei a mexer em nenhuma dessas ideias ainda.
Como autor fale a respeito do cenário nacional da literatura fantástica. E a respeito das campanhas de incentivo a leitura de autores nacionais. O que aguarda para este ano em que novos autores estão surgindo?
O “boom” da literatura fantástica nacional dos últimos anos foi favorecido fundamentalmente pela tecnologia digital, que levou ao barateamento dos custos de produção de um livro, o que por sua vez estimulou várias pequenas editoras a entrarem no mercado, dispostas a apostar nesse “filão” praticamente inexplorado pelas grandes editoras. Como sempre acontece nesses casos, a quantidade superou em muito a qualidade. Muita coisa (e gente) boa ficou meio “camuflada” no meio de uma avalanche de obras ruins ou heterogêneas. Como não tínhamos uma geração de romancistas formados para aproveitar a oportunidade repentina, predominaram as antologias de textos curtos, como contos e noveletas. Hoje, numa segunda fase desse processo, o mercado está se autorregulando. Quem não conseguiu apresentar uma qualidade consistente ou se adaptar às nuances do mercado, está desaparecendo do cenário. Penso que seja o momento em que começarão a aparecer os bons autores, bons de texto e de marketing, que são duas coisas diferentes, mas ambas asseguram a sobrevivência do autor. Na minha opinião, o que ainda não evoluiu o suficiente foi o profissionalismo dos envolvidos, tanto do lado das editoras quanto dos autores. As campanhas de incentivo, aumentando o consumo da literatura nacional, podem ajudar, mas a meu ver o principal seria que o autor investisse no aperfeiçoamento de sua técnica de escrita, na formação de seu estilo e, no caso das editoras, que passassem a realmente tratar seus autores como profissionais. Penso que ajudaria muito se o autor nacional se preocupasse em conhecer o que está sendo produzido lá fora, pelo menos no mercado mais profissional de todos, que é o anglofônico. Bom, tem que ler em inglês, mas isso também faz parte do investimento de que falei. “Todo mundo quer ir pro Céu, mas ninguém quer morrer”, dizia a banda Blitz. Isso não leva ninguém a lugar nenhum.
Muitos títulos e nomes dentro do romance remetem a diferentes figuras históricas. Quais são eles? Porque os escolheu e qual a fonte de pesquisa?
O ponto de divergência que dá origem ao mundo de história alternativa da “Guerra Fria Vitoriana” ocorre na colonização da América, no século XVI. A pequena mudança no resultado de uma batalha faz com que as Américas sejam colonizadas pelos ingleses em associação com os astecas, que não foram dizimados, mas agregados ao Império Britânico. Com isso, para fazer frente ao incontrolável avanço dos ingleses pelo mundo, os franceses se dedicam à formação de um sólido império continental. Não ocorre a Revolução Francesa, nem a Russa. Chegamos ao século XIX, palco de nossas histórias, num cenário de franca Guerra Fria entre as duas potências mundiais, os ingleses e os franceses. O Ministro da Ciência francês é Jules Verne; seu nêmese inglês é H.G.Wells. Os agentes que atuam pelo mundo, a serviço dos dois impérios, são os personagens destes e de outros autores do período chamado “Era Vitoriana”, que marca a passagem do século XIX para o XX. Nas histórias de “Homens e Monstros” figuram principalmente, como personagens, autores de literatura desse período, convivendo com os personagens ficcionais de suas obras. Assim temos Verne, Wells, Jack London, Leopoldo Lugones (escritor argentino) e até mesmo Robert E. Howard, que era criança na época. Ao mesmo tempo veremos Nemo, Robur, Axel Lidenbrock, Montgomery e Prendick (de “A Ilha do Doutor Moreau”), Dr. Jeckyll, etcétera, convivendo com eles no mesmo universo. Para escrever cada noveleta tive que ler – ou reler – de dois a três livros, em média, desses autores e de outros do mesmo período histórico, para aproveitar o “clima” da época e para adaptar o mundo descrito por esses grandes autores a meu universo de história alternativa. Essas obras clássicas foram, portanto, minha principal fonte de pesquisa. Esses foram os caras que me fizeram, ainda criança, desenvolver o gosto pela leitura, e um dos meus objetivos com esse universo ficcional é atrair novos jovens leitores para essas obras clássicas.
Quais os autores que influenciaram seu trabalho?
No final de “Homens e Monstros” faço uma lista completa das obras (romances e contos) que forneceram personagens, situações ou ambientações para as histórias contidas no livro. Os autores são: Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, H.G. Wells, Jack London, Joseph Conrad, Jules Verne, Leopoldo Lugones, Robert E. Howard e Robert Louis Stevenson. Na história em que estou trabalhando agora, o francês Maurice Leblanc corre sério risco de se juntar ao time.
Prá terminar, defina o Steampunk em uma frase.
Do vapor emerge, para o mundo de hoje, o melhor dos valores que regeram as aventuras de um mundo fascinante.
Por Cândido Ruiz